Por Elo Clínica
A doação de sêmen pode ser a única alternativa para casais que não conseguem obter a gravidez em decorrência de infertilidade por fatores masculinos graves. Para iniciar, devemos lembrar que hoje há um conhecimento maior sobre a influência dos problemas masculinos na infertilidade do casal, ao contrário do cenário passado, quando somente a mulher era considerada infértil.
As causas de infertilidade masculina são diversas. Muitos casos são reversíveis com tratamento farmacológico ou intervenções cirúrgicas. Entre as técnicas de reprodução assistida, também há solução para boa parte das condições clínicas.
Atualmente, a fertilização in vitro (FIV) com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) possibilita a fecundação com os gametas do paciente, mesmo diante de problemas complexos. Em determinados casos, os espermatozoides são coletados diretamente dos testículos ou epidídimos, por meio de procedimentos cirúrgicos de recuperação espermática.
No entanto, quando não há possibilidades de recuperar espermatozoides em quantidade ou qualidade suficiente para prosseguir com o tratamento, o casal tem a alternativa da doação de sêmen.
As normas éticas que direcionam essa prática
Todas as técnicas utilizadas no contexto da reprodução assistida são orientadas por normas éticas do Conselho Federal de Medicina (CFM). As diretrizes estão reunidas na Resolução 2168. As regras que direcionam a doação de sêmen são bem claras quanto à proibição dessa prática para fins lucrativos ou comerciais.
As normas também determinam que doadores e receptores sejam protegidos pelo sigilo e anonimato, portanto, não devem conhecer a identidade uns dos outros. É estipulada ainda a idade máxima de 50 anos para os homens que querem doar seu material biológico.
Outra importante orientação diz respeito ao registro permanente que as clínicas ou bancos de sêmen devem manter, contendo as características fenotípicas do doador, dados clínicos e uma amostra de seu material. Além disso, é permitido ao mesmo doador contribuir múltiplas vezes, desde que para os mesmos receptores.
Os casos que precisam de doação de sêmen
A doação de sêmen é um recurso indispensável diante de uma série de condições. A técnica pode tanto complementar um processo de FIV, quanto ser utilizada para tratamentos com inseminação intrauterina (IIU).
Vale lembrar que a FIV é um processo complexo em que o óvulo é fertilizado e cultivado em laboratório, antes de chegar ao útero. Já a IIU é uma alternativa para casos mais simples, na qual apenas a amostra de esperma é processada por técnicas laboratoriais, e a fecundação ocorre no corpo da paciente.
A doação de sêmen é uma técnica indicada para os seguintes casos:
Azoospermia ou oligozoospermia
Esses termos representam, respectivamente, a ausência e a quantidade insuficiente de espermatozoides no líquido seminal. Em muitos casos, os gametas ainda podem ser recuperados dos órgãos masculinos. Quando isso não é possível, a doação de sêmen é necessária.
Alto risco de transmissão de doenças genéticas
Quando o homem é portador de doenças gênicas ou cromossômicas, com alto risco de transmitir a condição para os filhos, o casal também pode optar por engravidar com sêmen de doador. Entretanto, muitos casos sejam solucionados com o teste diagnóstico pré-implantacional (PGT), outra técnica complementar da FIV, que detecta alterações nos genes e cromossomos do embrião antes da transferência para o útero.
Falhas anteriores na FIV por má qualidade dos espermatozoides
A baixa qualidade dos espermatozoides pode ocasionar tentativas malsucedidas nos processos de FIV, o que leva à necessidade de recorrer à doação de sêmen. Mas é preciso avaliar com cautela para descobrir se esse é o único problema que impede o sucesso do tratamento, ou se há outros fatores de infertilidade não identificados.
Pacientes oncológicos
Homens que vão passar por tratamento de câncer podem optar pela preservação oncológica da fertilidade, que consiste no congelamento dos gametas para uso posterior. Mas os pacientes que já enfrentaram a doença lidam com os efeitos colaterais da farmacoterapia, o que inclui alterações hormonais que prejudicam a espermatogênese. Sem a produção de espermatozoides, a doação de sêmen é indicada.
Gestação independente e casais homoafetivos femininos
Mulheres que decidem ter filhos sem um progenitor, assim como casais homoafetivos femininos, necessitam da doação de sêmen para sua reprodução. Nesses casos, se a futura gestante apresentar o sistema reprodutor em boas condições, a IIU pode garantir a concepção. Mas se for identificado algum fator de infertilidade feminina, a FIV é recomendada como tratamento mais eficaz.
A realização do procedimento
A preparação para doação de sêmen requer avaliação do histórico clínico do doador e análise seminal. Também é feito o rastreio de doenças genéticas e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), por meio do teste do cariótipo e de sorologias. Esses exames são essenciais para identificar se o sêmen do doador é viável para gerar embriões saudáveis.
Para doar seu material biológico, o homem precisa permanecer em abstinência por no mínimo dois dias — o período total pode variar conforme orientação da clínica. A coleta é feita por masturbação, na própria clínica, em ambiente preparado para o procedimento. Após todo o processo (que requer mais de uma coleta), o doador recebe os resultados das análises realizadas — sorologia, cariótipo e espermograma.
O espermograma é a ferramenta necessária para verificar as condições gerais dos espermatozoides, incluindo critérios como quantidade, vitalidade, morfologia e motilidade. A amostra de esperma doado ainda passa por processos de preparação seminal para identificar os gametas mais saudáveis.
O sêmen processado permanece congelado até ser escolhido para fecundação. A escolha é feita com base nas características fenotípicas do doador, que devem guardar semelhança com o receptor ou a receptora.
Como visto, a doação de sêmen é um procedimento simples, rápido e sigiloso, mas que pode mudar a vida de muitos casais que enfrentam o drama da infertilidade. Portanto, é uma prática de alta relevância no âmbito da reprodução assistida, além de ser reflexo de altruísmo.