Aborto de repetição - Elo Medicina Reprodutiva
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Por Elo Clínica

Para algumas mulheres, a gravidez é um processo que ocorre sem muitas dificuldades, enquanto para outras pode envolver apreensão e expectativas prolongadas. Entre uma tentativa e outra, o casal pode ser surpreendido por abortos de repetição, o que leva a um estado de fragilidade emocional e frustração, além da insegurança quanto ao prognóstico reprodutivo. Nesses casos, é essencial buscar avaliação médica para descobrir a causa dos abortamentos.

O aborto é uma condição definida pela interrupção da gestação, o que pode acontecer tanto na fase embrionária quanto fetal. O quadro é considerado precoce, quando ocorre no primeiro trimestre gestacional, ou tardio, quando os sinais vitais do bebê são perdidos entre a 13ª e a 22ª semana — estágio em que o novo ser humano ainda não é capaz de sobreviver sem a proteção uterina.

É caracterizado o quadro de aborto de repetição quando os eventos se repetem por duas vezes consecutivas ou mais. Diversos fatores podem estar relacionados a esse problema, por isso a necessidade de uma investigação minuciosa para chegar à melhor definição de tratamento.

As possíveis causas do aborto de repetição

Para obter uma conclusão diagnóstica sobre as causas do aborto de repetição, a paciente, assim como seu parceiro, deve passar por uma série de exames, os quais incluem:

  • avaliação do histórico gestacional e familiar, bem como observação do estilo de vida;
  • ultrassonografia e outros métodos de imagem;
  • exames de sangue;
  • exame do cariótipo materno e paterno;
  • biópsia endometrial.

A avaliação pode fornecer resultados precisos para compreender os fatores que provocam os abortos e direcionar a conduta terapêutica. No entanto, alguns casos podem ser idiopáticos, isto é, sem causa detectável, o que representa um desafio para o tratamento.

Entre as causas de aborto de repetição mais identificadas, estão as seguintes:

Alterações cromossômicas

Grande parte dos abortos de repetição é provocada por problemas genéticos ou alterações no número de cromossomos do embrião, principalmente em decorrência de falhas nos gametas femininos. Essa condição é mais detectada em casos de gravidez tardia, uma vez que a idade avançada da tentante pode afetar a qualidade dos óvulos.

Malformações uterinas congênitas

Em situações pouco comuns, o útero pode apresentar anomalias anatômicas congênitas, também chamadas de malformações Müllerianas. Conforme o tipo da anormalidade, o espaço da cavidade uterina é prejudicado, dificultando tanto a fixação do embrião quanto o crescimento do feto.

As alterações na estrutura uterina não costumam despertar sintomas. Sendo assim, não há uma busca precoce por tratamento, e a mulher pode tomar conhecimento de seu quadro somente na investigação diagnóstica dos abortos de repetição.

Patologias que se desenvolvem no útero

Além das malformações congênitas, o útero ainda pode ser acometido por uma série de doenças adquiridas durante a vida reprodutiva. Adenomiose, miomas, pólipos endometriais e sinequias uterinas são patologias que podem alterar a vascularização e a receptividade endometrial, além de criar barreiras para a implantação do embrião e provocar abortamentos.

Trombofilia

A trombofilia se trata de uma predisposição aumentada para a formação de trombos, coágulos de sangue. Na gravidez, já ocorre um processo natural de hipercoagulabilidade para evitar hemorragias durante a gestação e o parto. Dessa forma, a gestante com trombofilia tem sérios riscos de passar por um evento tromboembólico.

Essa condição pode provocar abortos de repetição em razão da obstrução dos vasos placentários, o que causa um bloqueio no aporte sanguíneo e na transferência de nutrientes e de oxigênio para o feto.

Alterações endócrinas

O organismo como um todo depende do funcionamento adequado do sistema endócrino. Quando se trata de abortos de repetição, esse é um ponto que também merece atenção. Entre as alterações endócrinas associadas aos abortamentos recorrentes estão: o aumento nos níveis de prolactina, as doenças da tireoide, a diabetes descontrolada e a obesidade.

Estímulos ambientais

A exposição a tratamentos químicos como radioterapia e quimioterapia também é fator de risco para os abortos de repetição. Nesses casos, a paciente pode optar pelo congelamento de óvulos ou embriões antes de passar pela intervenção farmacológica.

Da mesma forma, o tabagismo e o consumo abusivo de álcool, ou outras drogas, são hábitos que devem ser abandonados pela mulher que pretende levar uma gestação a termo.

As alternativas de tratamento

O aborto de repetição é tratado de acordo com a causa identificada. Patologias uterinas adquiridas, como miomas, adenomiose e pólipos endometriais, podem receber tratamento medicamentoso, com a finalidade de reduzir as lesões e o sangramento causados pelas doenças. Entretanto, casos mais graves, que alteram a estrutura do útero de modo a oferecer riscos ao desenvolvimento embrionário e fetal, devem ser encaminhados para intervenção cirúrgica.

As malformações uterinas congênitas também devem ser corrigidas com cirurgia, conforme o impacto causado à anatomia do órgão, enquanto as outras condições envolvidas no aborto de repetição — trombofilia e alterações endócrinas — precisam de tratamento farmacológico.

Outra importante recomendação, como forma de tratamento auxiliar, é a mudança no estilo de vida, visto que determinados hábitos são prejudiciais à fertilidade e ao desenvolvimento gestacional.

A reprodução assistida no tratamento do aborto de repetição

A reprodução assistida também oferece possibilidades de tratamento aos casais que sofrem com abortos de repetição. A técnica mais indicada, nesses casos, é a fertilização in vitro (FIV), por se tratar de um processo de alta complexidade e que ainda dispõe de diversos recursos complementares para tratar condições específicas.

Nesse contexto, o teste genético pré-implantacional (PGT) é uma ferramenta de importância ímpar para tratar os casos de aborto de repetição por anormalidades cromossômicas e genéticas. A técnica permite o rastreio de alterações a partir da análise de uma amostra de células do embrião, durante a fase do cultivo embrionário — uma das etapas da FIV.

O tratamento também pode abranger outras técnicas complementares, como o teste de receptividade endometrial (ERA), que permite analisar as condições do ambiente uterino antes da transferência dos embriões. A avaliação é feita para evitar falhas de implantação e abortamento precoce.

Há, ainda, outras possibilidades na reprodução assistida, definidas conforme a individualização do tratamento. Mas é seguro saber que mulheres com diagnóstico de aborto de repetição podem encontrar alternativas que favoreçam seu propósito de gestar.