Por Elo Clínica
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma endocrinopatia complexa, que tem como características principais a presença de múltiplos cistos nos ovários, além de hiperandrogenismo e anovulação crônica. Trata-se do problema mais associado à infertilidade feminina por ausência de ovulação e sua prevalência engloba cerca de 19% das mulheres em idade reprodutiva.
Apesar de não provocar sintomas de dor, a SOP pode afetar a vida da mulher devido à interferência nos planos de reprodução. Outro efeito potencial da doença inclui os reflexos na autoestima, uma vez que o hiperandrogenismo provoca o desenvolvimento de traços masculinos, como crescimento de pelos em partes incomuns do corpo (hirsutismo) e queda de cabelo (alopecia).
Além disso, a SOP ainda está associada à elevação dos fatores de risco cardiovascular, como resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, obesidade, hipertensão arterial e síndrome metabólica. Contudo, os estudos na área ainda são inconclusivos para confirmar a relação entre SOP e mortalidade por eventos cardiovasculares.
As causas e os sintomas da SOP
A etiologia da SOP permanece desconhecida, mas acredita-se que a doença seja de natureza multigênica. Da mesma forma, os aspectos fisiopatológicos são complexos e incluem variáveis genéticas e ambientais.
A patologia ainda envolve fatores metabólicos pré e pós-natais, assim como disfunções endócrinas hereditárias. A resistência à insulina também parece ter importante influência no desenvolvimento da SOP.
Com relação à sintomatologia, a anovulação crônica está entre as principais características da doença. Isso se manifesta por meio de irregularidades no ciclo menstrual, as quais incluem amenorreia (ausência de menstruação) ou oligomenorreia (menstruação com intervalos de mais de 35 dias).
Outra característica presente nos quadros de SOP é o hiperandrogenismo. O aumento nos níveis de hormônios andrógenos provoca alterações nos aspectos da feminilidade, resultando em sintomas como hirsutismo, alopecia, acne e seborreia. Além disso, por se tratar de uma doença endócrina, a mulher também pode ter aumento de peso, outro fator que tende a afetar a autoestima.
A infertilidade surge como mais um sintoma significativo da SOP, o que ocorre devido à disfunção ovulatória. A presença de múltiplos cistos nos ovários, confirmada por exames ultrassonográficos, é mais um sinal da doença, embora os cistos não sejam sintomáticos e também atualmente não sejam obrigatórios para o diagnóstico da doença.
A avaliação diagnóstica
A suspeita diagnóstica da SOP parte dos achados clínicos. Relatos de irregularidades no ciclo menstrual somadas a manifestações de hiperandrogenismo são pontos de partida para a definição dos exames a serem realizados.
A análise laboratorial ajuda a confirmar a elevação dos níveis séricos de testosterona ou de androstenediona. Já a ultrassonografia é realizada para detectar a presença dos microcistos ovarianos, embora eles não sejam necessários para fechar o diagnóstico.
A partir dos resultados dos exames laboratoriais e de imagem, o médico define o percurso terapêutico, levando em conta, entre outros fatores, se a paciente apresenta o desejo de contracepção ou de gestação.
As formas de tratamento
O tratamento da SOP é direcionado à manifestação sintomática da doença, com os objetivos principais de diminuir os sintomas de hiperandrogenismo e normalizar o ciclo menstrual. Além disso, o processo terapêutico também visa à redução das anormalidades metabólicas, o que inclui minimizar os riscos de diabetes e doenças cardiovasculares.
Entre os medicamentos que podem ser aplicados no tratamento da SOP estão os anti-androgênicos em concomitância com os contraceptivos orais e progestagênios — no caso das pacientes que não desejam uma gravidez no momento. Já os sensibilizadores de insulina são utilizados para combater a resistência insulínica, um dos fatores associados ao desenvolvimento da SOP.
A modificação no estilo de vida também é considerada uma conduta fundamental. Pacientes com sobrepeso ou obesidade recebem, como primeira linha de tratamento, a orientação de fazer reeducação alimentar aliada à prática regular de exercícios físicos.
A redução de 10% do peso corporal pode ser suficiente para alcançar a regularização do ciclo menstrual e recuperar a ovulação espontânea.
A reprodução assistida no tratamento da SOP
Mulheres com SOP que desejam iniciar uma gestação encontram apoio terapêutico na reprodução assistida. Como essa condição é marcada pela anovulação, a técnica utilizada é a estimulação ovariana com indução da ovulação. Esse procedimento é feito tanto nos tratamentos de baixa complexidade — relação sexual programada (RSP) e inseminação intrauterina (IIU) — quanto na fertilização in vitro (FIV).
Se não for identificado nenhum outro fator de infertilidade no casal, a paciente pode iniciar suas tentativas de reprodução com a RSP, se tiver menos de 35 anos e as tubas uterinas preservadas. Dessa forma, ela é orientada a manter relações sexuais no período estimado para a ovulação, logo após a administração dos medicamentos indutores.
A FIV é uma alternativa de tratamento que garante mais taxas de êxito, mesmo quando são detectados fatores graves de infertilidade na mulher ou no homem. Nesse caso, o processo também é iniciado com estimulação dos ovários e indução da ovulação, mas os folículos são aspirados antes do momento previsto para a liberação dos óvulos.
Em seguida, os óvulos são retirados dos folículos e analisados em laboratório. Os gametas maduros são fertilizados e passam por um período de cultivo embrionário. Somente após os estágios iniciais de desenvolvimento celular é que os embriões são transferidos para o útero materno.
As chances de gravidez com a FIV são ainda mais expressivas em razão das técnicas complementares que podem ser empregadas para potencializar o tratamento. Com o auxílio de recursos e tecnologias específicas, a paciente com SOP ou com outros fatores de infertilidade consegue alcançar o objetivo de ter um filho em cerca de 40% dos casos, independentemente do nível de comprometimento do sistema reprodutor.