Por Elo Clínica
O útero é um dos importantes órgãos que formam o sistema reprodutor feminino. Sua função é receber o embrião e fornecer um ambiente seguro e propício para o desenvolvimento fetal. O endométrio, por sua vez, é a camada mucosa que reveste a parede uterina — é justamente nesse tecido que o embrião se implanta no início da gravidez.
A endometrite, portanto, é uma inflamação do tecido endometrial, causada principalmente por patógenos bacterianos. Em muitos casos, a doença é silenciosa, mas, mesmo assintomática, pode comprometer a fertilidade feminina.
Tanto nas tentativas de concepção natural, quanto nos tratamentos de reprodução assistida, há o risco de falhas de implantação embrionária e abortamento espontâneo em decorrência da endometrite. Tendo isso em vista, a conduta mais apropriada para evitar complicações é a busca por tratamento.
As causas da endometrite
Em sua maioria, os quadros de endometrite são resultantes da ação de agentes infecciosos que ascendem do trato vaginal ou gastrointestinal durante procedimentos de manipulação uterina. A infecção costuma ser polimicrobiana e pode incluir patógenos como Staphylococcus, Enterococcus, Escherichia coli, Gardnerella vaginalis, Proteus, entre outros.
Cesarianas eletivas e não eletivas, parto vaginal e curetagem pós-aborto estão entre os principais procedimentos que facilitam a ascensão dos microrganismos causadores da endometrite. O mesmo pode ocorrer nos casos de histeroscopia cirúrgica para condições uterinas específicas, manipulação do endométrio para biópsia ou até implantação de dispositivos intrauterinos (DIU).
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) também são responsáveis por boa parte dos casos de endometrite, os quais podem vir acompanhados com outras doenças inflamatórias do sistema reprodutor, como salpingite (nas tubas uterinas), ooforite (nos ovários), cervicite (na cérvice) e peritonite (no peritônio pélvico).
Comumente, esses quadros isolados ou em conjunto estão associados à doença inflamatória pélvica (DIP), uma das principais consequências das ISTs no organismo feminino.
Em ocasiões mais raras, a endometrite também pode estar relacionada a outras condições clínicas, como diabetes, obesidade, doenças circulatórias e tuberculose.
Os sintomas da endometrite
A endometrite pode se manifestar de forma aguda ou crônica. A sintomatologia é mais evidente durante o quadro agudo da doença, embora os sinais desapareçam em pouco tempo. A remissão dos sintomas pode sugerir uma condição passageira e obstar a procura por tratamento. No entanto, se não tratada, a inflamação do endométrio tende a assumir um caráter crônico e assintomático, colocando a fertilidade feminina em risco.
Os primeiros sintomas da endometrite incluem dor no baixo ventre e sensibilidade uterina aumentada (observada no exame físico). Também são comuns episódios de febre, mal-estar e calafrios. Outros indícios da infecção relatados pelas pacientes são:
- corrimento vaginal com forte odor;
- menstruação dolorosa;
- sangramento uterino anormal;
- dor nas relações sexuais;
- distensão abdominal.
Os métodos de avaliação diagnóstica
A investigação diagnóstica é iniciada com o exame ginecológico. Durante a avaliação, o especialista consegue notar o útero amolecido, aumentado e sensível ao toque. A anamnese também ajuda a identificar os demais sintomas e obter um diagnóstico por presunção — isso porque a sintomatologia não é determinante, considerando manifestações clínicas semelhantes em outras patologias uterinas.
Em seguida, são solicitados exames de sangue e de urina, assim como análise da secreção vaginal. Exames de imagem também são métodos importantes para verificar se a infecção causou alterações no sistema reprodutor, como a formação de aderências cicatriciais.
Para a inspeção precisa do interior do útero, a técnica mais utilizada é a histeroscopia, que permite observar as condições uterinas e fazer o recolhimento de células do endométrio para identificar os agentes etiológicos.
As formas de tratamento
A intervenção terapêutica da endometrite requer o uso de antibióticos e anti-inflamatórios, os quais minimizam os sintomas da inflamação e interrompem a ação dos agentes infecciosos. O parceiro da paciente também deve receber tratamento, caso a doença tenha sido causada por ISTs.
Quando o quadro apresenta abscessos, estes precisam ser drenados. Da mesma forma, se houver formação de tecido cicatricial, é necessário removê-los por meio de histeroscopia cirúrgica ou videolaparoscopia.
Endometrite e infertilidade: a importância da reprodução assistida
A endometrite pode alterar as características do tecido endometrial e dificultar a gestação, seja no processo natural, seja na reprodução assistida, lembrando que o endométrio é a camada uterina em que o embrião se implanta no início da gravidez. Para que isso aconteça, o tecido deve estar com espessura e vascularização adequadas. Contudo, o processo inflamatório tende a tornar o ambiente desfavorável, interferindo na fixação embrionária.
Antes de iniciar um tratamento para engravidar, a paciente deve, primeiramente, realizar todos os exames necessários para identificar os possíveis fatores de infertilidade. A biópsia do endométrio é um dos métodos que deve constar nesse percurso de preparação, o qual permite a identificação da endometrite. Portanto, é preciso tratar devidamente a infecção antes de qualquer tentativa de gravidez.
Na fertilização in vitro (FIV), principal técnica da reprodução assistida, é possível utilizar diferentes ferramentas para analisar as condições do tecido endometrial antes da transferência dos embriões para o útero, de forma a evitar falhas de nidação e abortamentos.
O teste ERA possibilita a avaliação da receptividade do endométrio. Com o auxílio desse recurso, é identificado o período mais favorável para a fixação embrionária. Em conjunto com o ERA, existem dois novos testes que garantem resultados precisos na análise endometrial: EMMA e ALICE.
O teste EMMA (análise metagenômica do microbioma endometrial) indica a proporção de bactérias saudáveis no endométrio, enquanto o teste ALICE rastreia os microrganismos causadores da endometrite crônica.
Essas ferramentas fazem parte de um conjunto de técnicas complementares da FIV, o que torna o tratamento o mais avançado da medicina reprodutiva, com altas taxas de gestação diante de diferentes quadros de infertilidade.