Por Elo Clínica
Cerca de metade dos casos de infertilidade conjugal é marcada por algum fator masculino — seja como causa isolada, seja em conjunto com problemas femininos. As causas da infertilidade masculina são diversas e podem provocar alterações em diferentes níveis do processo reprodutivo, o que inclui a homeostase hormonal, a produção de espermatozoides (espermatogênese) ou a qualidade dos gametas.
Entre os principais problemas detectados na investigação da infertilidade masculina está a azoospermia — ausência de espermatozoides no fluído seminal. Mesmo que o volume de líquido ejaculado pareça normal, o sêmen pode não conter células sexuais, necessárias à fecundação.
A maior parte do fluído ejaculado é composta de líquidos da próstata e das vesículas seminais. Portanto, somente uma análise microscópica pode identificar se há ou não a presença de espermatozoides no sêmen.
Importante acentuar que a azoospermia não é uma patologia, mas uma consequência de outras condições, como distúrbios hormonais, doenças, inclusive genéticas, e criptorquidia (não descida dos testículos para a bolsa testicular). Procedimentos cirúrgicos, como a vasectomia, também resultam em azoospermia.
Azoospermia obstrutiva
Esse é o quadro mais comum de azoospermia e ocorre quando existem obstáculos no trajeto dos espermatozoides, interrompendo seu transporte. Dessa forma, somente o líquido prostático e os fluídos vesiculares chegam até a uretra para formar a substância que será ejaculada. Nesses casos, não há gametas no sêmen, mas eles são produzidos pelos testículos.
A azoospermia obstrutiva pode decorrer de três pontos de bloqueio:
- nos testículos ou epidídimos, como resultado de infecções que causaram aderências cicatriciais e ocluíram os canais desses órgãos;
- nos ductos deferentes, sendo esse tipo de obstrução comumente produzida por procedimentos de vasectomia, condição que pode ser revertida em determinados casos;
- no desvio do líquido ejaculado — aqui temos um distúrbio chamado de ejaculação retrógrada. Nesse caso, mesmo que os ductos sejam permeáveis, o líquido seminal, composto de espermatozoides, é depositado na bexiga, em vez de ser expelido pela uretra.
Em cada uma dessas situações, a azoospermia obstrutiva recebe um tipo diferente de tratamento, lembrando que o quadro em si não é tratado para redução de sintomas, uma vez que se trata de uma condição assintomática. O objetivo das intervenções é obter espermatozoides para o processo de fecundação e, assim, solucionar os problemas de infertilidade.
Azoospermia não obstrutiva
Existem casos mais graves de azoospermia, em que não é possível reverter o bloqueio dos espermatozoides, sendo necessárias técnicas de recuperação espermática — embora alguns quadros possam ser corrigidos com procedimentos cirúrgicos, como a varicocele.
Nesses casos, chamados de azoospermia não obstrutiva, o homem não produz gametas. As principais causas desse problema incluem desequilíbrio hormonal, com prejuízos nos níveis das substâncias que participam da espermatogênese — hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH) e testosterona.
Alterações genéticas também podem interferir na ação das células que produzem os espermatozoides, assim como exposição frequente a substâncias químicas agressivas, como os fármacos utilizados no tratamento de pacientes oncológicos (quimioterapia e radioterapia).
Formas de diagnosticar o quadro
Para diagnosticar a azoospermia, a primeiro método utilizado é o espermograma. Comumente, podem ser realizadas duas coletas de esperma, com um intervalo médio de duas semanas. Se a ausência de espermatozoides for confirmada, outros exames são feitos para investigar o tipo de azoospermia.
Dosagem hormonal, ultrassonografia da bolsa testicular, testes genéticos e ressonância magnética também são exames que compõem a investigação da azoospermia e da infertilidade masculina como um todo.
Possibilidades de tratamento
O tratamento depende do tipo do problema identificado, mas a maioria dos casos de infertilidade por azoospermia tem solução. Quando a obstrução ocorre nos testículos ou epidídimos, os espermatozoides podem ser extraídos por procedimentos de recuperação espermática e utilizados em tratamentos de fertilização in vitro (FIV).
Se a azoospermia foi causada por oclusão dos ductos deferentes, como na vasectomia, a condição pode ser corrigida por cirurgia de reversão da esterilização, embora o sucesso do procedimento fique condicionado a determinados fatores, como o tempo que já transcorreu desde a cirurgia original e o método cirúrgico que foi empregado para realização da vasectomia.
Por isso, dependendo do caso, é mais adequada a indicação de técnica de reprodução assistida, especificamente a FIV nesse caso, para que o casal possa ter filhos.
De qualquer forma, podem ser empregadas as técnicas de PESA e MESA para a coleta de espermatozoides dos epidídimos, já que o problema está no transporte dos gametas, não em sua produção.
Os quadros de azoospermia não obstrutiva por desequilíbrio nos hormônios são tratados com administração de medicamentos hormonais, principalmente testosterona. Em outros casos é possível empregar técnicas cirúrgicas para a coleta de gametas, como a TESE e a Micro-TESE.
Em situações de maior severidade, em que não restam alternativas para obter espermatozoides viáveis do paciente, é possível recorrer à doação de sêmen nos tratamentos para engravidar.
Azoospermia e reprodução assistida
Como visto nas formas de tratamento, existem diferentes intervenções para os casos de azoospermia. Nesse cenário, a reprodução assistida dispõe de técnicas específicas para cada condição.
Os procedimentos de recuperação espermática, por exemplo, são recursos que complementam os processos de FIV, enquanto permitem que os espermatozoides sejam coletados diretamente dos testículos ou epidídimos.
Na FIV, os gametas coletados pelas técnicas de recuperação espermática — PESA, MESA, TESE e Micro-TESE — são utilizados na fertilização com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Assim, os gametas são injetados dentro dos óvulos, elevando as chances de fecundação.
Já os pacientes que não conseguem produzir uma quantidade suficiente de espermatozoides podem optar pela doação de sêmen. Utilizar o material biológico de um doador anônimo também é uma alternativa viável para os casais que querem passar pela experiência de acompanhar o desenvolvimento do feto e vivenciar o nascimento de um filho.