Por Elo Clínica
Disfunções ovarianas e patologias uterinas são causas conhecidas de infertilidade feminina. Da mesma forma, o fator tuboperitoneal pode estar relacionado às dificuldades reprodutivas da mulher. Assim, para investigar a permeabilidade das tubas, a histerossalpingografia tornou-se um importante método diagnóstico. O exame é feito com técnica de raio-x associada à utilização de meios iodados hidrossolúveis.
Outros métodos efetivos ainda foram desenvolvidos nas últimas décadas para avaliar a permeabilidade tubária, como a cromotubagem visualizada por laparoscopia. Contudo, a histerossalpingografia continua sendo o principal recurso para investigação diagnóstica de doenças nas tubas, devido à sensibilidade e especificidade nos resultados, assim como pela praticidade de sua aplicação.
As indicações para o exame de histerossalpingografia
A histerossalpingografia é indicada principalmente para investigar problemas nas tubas uterinas, como anormalidades anatômicas, oclusão ou dilatação. Alterações na anatomia tubária podem ser de origem congênita, já os casos de tubas obstruídas ou dilatadas normalmente correspondem a salpingite ou hidrossalpinge — quadros associados à doença inflamatória pélvica (DIP).
A DIP é uma doença comumente relacionada às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Com o aumento da proporção dos quadros infecciosos, a avaliação do fator tubário passou a ser um recurso de alta relevância.
O exame também pode ser feito quando se pretende observar a cavidade do útero, em busca de condições que estejam afetando a fertilidade da mulher. Assim, a histerossalpingografia complementa a investigação diagnóstica de malformações congênitas, sinequias uterinas, adenomiose, miomas, hiperplasia no endométrio, pólipos endometriais e cervicais, entre outros quadros.
Além da investigação de patologias uterinas e tubárias, a histerossalpingografia também é realizada para acompanhar o resultado de cirurgias nas tubas, como a laqueadura ou a reversão da esterilização.
A realização do exame
A histerossalpingografia requer alguns cuidados para o preparo da paciente. Uma das principais recomendações é que a avaliação seja feita logo após o término do período menstrual para garantir que a mulher ainda não esteja grávida. Apesar do baixo risco de radiação, técnicas de raio-X podem ser prejudiciais ao feto.
Outra prescrição anterior ao exame inclui o uso de medicamentos para limpar o intestino, do mesmo modo que a paciente é orientada a esvaziar a bexiga logo antes do procedimento. Resíduos de qualquer espécie podem interferir na visibilidade dos órgãos e levar a falhas de interpretação das imagens.
A histerossalpingografia é um método de avaliação simples, rápido e realizado em ambulatório. Ainda assim, mulheres que apresentam mais sensibilidade à dor podem sentir desconforto durante o procedimento. Portanto, medicamentos anestésicos são aplicados conforme a necessidade de cada caso.
Na hora do exame, a paciente é orientada a ficar em posição ginecológica. Primeiramente, o cérvix é aberto com um espéculo. Uma cânula longa contendo o contraste iodado é introduzida pelo canal vaginal. Depois disso, o espéculo é retirado e um equipamento de raio-x é posicionado sobre a região pélvica da mulher.
A substância iodada progride bem pelo sistema reprodutor, enquanto preenche completamente a cavidade do útero e se estende pelas tubas, possibilitando a observação de anomalias anatômicas e obstruções tubárias.
O exame proporciona imagens claras e distintas dor órgãos examinados, as quais podem ser impressas ou digitalizadas. O produto de contraste utilizado na histerossalpingografia é uma substância hidrossolúvel com um percentual moderado de iodo, o que comumente é bem tolerado pelo organismo da paciente, sendo eliminado após cerca de 30 minutos.
O mais indicado é que o procedimento seja efetuado na fase folicular do ciclo reprodutivo — entre o oitavo e o décimo segundo dia do ciclo. Nesse período, não há riscos de liberação de progesterona, o que causaria alterações na permeabilidade das tubas e na musculatura uterina. Nesse sentido, também é necessário que a paciente informe se faz uso de progestágenos.
As contraindicações da histerossalpingografia são feitas a pacientes com alergia conhecida ao iodo, bem como nos casos de suspeita de gravidez. Mulheres com diagnóstico de infecção genital ou em período de sangramento uterino também não devem realizar o exame.
Os riscos associados à técnica
Embora sejam raros, os principais riscos relacionados à realização da histerossalpingografia são as reações alérgicas ao produto aplicado. Nesses casos, os sintomas podem variar de urticárias a choques anafiláticos. Outra possível complicação é a infecção das tubas uterinas, sobretudo se já havia algum processo infeccioso latente.
As substâncias hidrossolúveis contrastadas à base de iodo oferecem um risco baixo de reações alérgicas, entretanto tais reações ainda podem ocorrer. Então, para pacientes com contraindicação ao uso do contraste iodado, um recurso diagnóstico é a histerossonossalpingografia — técnica de ultrassom que utiliza soro fisiológico ou contrastes à base de galactose.
Apesar de a histerossonossalpingografia apresentar sensibilidade e especificidade similar ao exame radiológico, seu papel na rotina da avaliação tubária ainda é questionado. A histerossalpingografia, por sua vez, também tem sido negligenciada por alguns especialistas da área médica, devido à efetividade de técnicas como ultrassonografia, histeroscopia e ressonância magnética.
Contudo, mesmo com alguma diminuição nas solicitações para o exame, a histerossalpingografia, se bem interpretada, ainda é reconhecida como uma técnica fundamental na investigação de alterações nas tubas uterinas.
Portanto, o método permanece como um dos procedimentos principais na avaliação da infertilidade. Motivos para isso são: eficácia como técnica ambulatorial; ausência de sedação; agilidade na realização do exame; mínima morbilidade; baixo custo.