Por Elo Clínica
A endometrite é uma das principais consequências da contaminação por ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), embora esta não seja o único motivo para o desenvolvimento desta doença, que tem grande potencial para provocar infertilidade feminina.
A endometrite refere-se a qualquer processo inflamatório que acomete o endométrio, camada de revestimento da cavidade uterina, provocado pela contaminação com bactérias, fungos, protozoários e vírus, por procedimentos cirúrgicos, como a retirada de miomas uterinos, pólipos endometriais, curetagem ou o próprio parto, e pelo uso de substâncias químicas agressivas, como espermicidas.
Uma das principais consequências da endometrite é a infertilidade feminina, já que esta doença prejudica a receptividade endometrial e pode provocar falhas na implantação embrionária, levando a perdas gestacionais.
A identificação precisa das causas da endometrite é fundamental para que se possa definir os melhores tratamentos, com o objetivo de curar a inflamação e evitar que a infertilidade provocada pela doença seja persistente, mesmo após o tratamento.
Acompanhe a leitura do texto a seguir e conheça melhor como é feito o diagnóstico para endometrite e a importância desse processo para a escolha dos melhores tratamentos, além do papel da reprodução assistida, nos casos em que a infertilidade não é restaurada após o tratamento.
Como a endometrite prejudica a fertilidade das mulheres?
Além dos riscos de que a infecção se espalhe para outros órgãos e estruturas da cavidade pélvica, como tubas uterinas, ovários, bexiga e intestinos e sepse, nos casos mais graves, a endometrite afeta principalmente a fertilidade das mulheres.
Estudos mostram que a DIP (doença inflamatória pélvica), tem a endometrite como uma das suas principais consequências. A inflamação pode estar presente em cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo que em aproximadamente 25% dos casos, é possível observar reflexos na fertilidade.
Como acontece na maior parte dos processos inflamatórios, a ação das prostaglandinas e linfócitos – células de defesa do corpo humano – tem como objetivo atacar os agentes agressores e isolar a região afetada para que o tecido possa cicatrizar.
Quando localizado no endométrio, o processo inflamatório afeta o ambiente intrauterino e faz com que o embrião, assim como qualquer outro corpo que entre em contato com o endométrio, seja rejeitado e eliminado prontamente.
Essa é uma reação de proteção, no entanto, impede que o embrião consiga fixar-se no endométrio, causando perdas gestacionais como abortos de repetição.
Algumas das principais bactérias envolvidas na endometrite são:
- Chlamydia trachomatis;
- Neisseria gonorrhoeae;
- Ureaplasma urealyticum;
- Mycoplasma genitalium;
- E. coli.
Entre esses microrganismos, apenas E. coli não é transmitida obrigatoriamente por vias sexuais, já que se trata de uma bactéria natural da fauna intestinal, mas que pode entrar em contato com o canal vaginal como resultado, principalmente, de hábitos de higiene inadequados.
Quais são os sintomas da endometrite?
Os sintomas da endometrite podem ser inicialmente parecidos com aqueles manifestados pelas ISTs em seus primeiros estágios após a contaminação, embora mais robustos e muitas vezes acompanhados de febre, o que normalmente indica maior gravidade do quadro e a necessidade de buscar atendimento médico imediato.
A mulher pode perceber alguns sinais, como os listados a seguir:
- Corrimento com cor e odor alterados;
- Coceira genital;
- Dor durante as relações sexuais (dispareunia);
- Sangramentos anormais;
- Aumento na sensibilidade pélvica;
- Febre;
- Náusea;
- Vômito.
Tanto o corrimento, como a coceira e os episódios de sangramento anormal – que muitas vezes acontece durante a relação sexual com penetração – são resultado do embate entre os agentes microbianos que causam a infecção e o sistema imunológico. Por isso, quanto mais severo for o processo infeccioso, mais intensa será a resposta inflamatória, o que pode tornar o corrimento e os sangramentos mais volumosos.
O sintoma de hipersensibilidade ao toque também está relacionado ao processo inflamatório, que provoca aumento na vascularização local, edema e, assim, a hipersensibilidade dos tecidos, levando à dor pélvica e à dispareunia.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico para endometrite visa não somente confirmar a doença, como também identificar os agentes causadores desse quadro, além de excluir outras possibilidades diagnósticas. Para isso, é imprescindível a realização de exames laboratoriais e de imagem, além do exame clínico, feito na ocasião da primeira consulta.
O exame clínico deve abordar os sintomas observados pela mulher, que normalmente motivam a consulta, seu histórico de saúde – buscando intervenções uterinas, como cirurgias, partos e curetagens – e a realização de intervenções simples, como palpação e observação da composição do canal vaginal e colo do útero, com auxílio do espéculo.
A partir da primeira consulta é possível solicitar os exames mais adequados, que confirmem a endometrite.
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais mais solicitados são o hemograma, urocultura e análise de secreção local, todos com objetivo de identificar possíveis bactérias ou outros microrganismos que estejam atuando no processo infeccioso-inflamatório da endometrite.
A coleta de sangue é realizada no próprio laboratório onde esse material será analisado, enquanto a urina deve ser coletada pela mulher e enviada ao laboratório. As secreções encontradas no aparelho genital são coletadas na primeira consulta e enviadas pela clínica ao laboratório, para análise.
Normalmente os resultados desses exames são suficientes para confirmar a endometrite, quando suas causas são microbianas. Contudo, nos casos de endometrite inflamatória, em que não participam quaisquer microrganismos, os exames bacteriológicos não são suficientes para definir o diagnóstico, que deve ser complementado por exames de imagem.
Exames de imagem
Os dois principais exames de imagem solicitados para o diagnóstico da endometrite são a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética, sendo a ressonância um procedimento mais preciso, com capacidade de fornecer imagens com melhor resolução e mais detalhadas.
A função dos exames de imagem no diagnóstico da endometrite, além de identificar a doença em casos não infecciosos, é também observar a extensão das lesões e, assim, estimar os danos ao potencial de fertilidade da mulher e as possibilidades de que outras estruturas tenham sido acometidas pelo processo inflamatório.
Como é feito o tratamento para endometrite?
Os principais tratamentos para endometrite envolvem principalmente anti-inflamatórios e antibióticos e a indicação de cada abordagem depende dos agentes causadores.
Quando as lesões são provocadas por intervenções mecânicas (cirurgias, partos, curetagens) ou químicas e não existem microrganismos envolvidos no processo inflamatório, o tratamento com anti-inflamatórios ajuda o corpo a diminuir a resposta imune – e suas consequências sobre o tecido afetado – e, assim, a controlar os sintomas dolorosos, restabelecendo a qualidade de vida da mulher.
Nos casos em que a endometrite tem origem na ação microbiana, no entanto, a abordagem é o uso de antibióticos específicos para as bactérias ou outros microrganismos identificados nos exames laboratoriais. A terapêutica pode ser feita com uma dose única ou com tratamento continuado por alguns dias.
Após o tratamento é necessário realizar os exames laboratoriais novamente, confirmando o fim do processo infeccioso – e aconselha-se que a parceria seja também testada e tratada, evitando a recontaminação e fortalecimento das bactérias.
É importante lembrar que qualquer alteração uterina – o que inclui a endometrite – deve ser tratada antes de dar início às tentativas de engravidar, mesmo quando a mulher tem indicação para reprodução assistida, para evitar falhas de implantação nos ciclos de tratamento.
Embora todas as técnicas de reprodução assistida dependam da integridade uterina para alcançar a gestação, a FIV (fertilização in vitro) é a única que permite a escolha do melhor momento para que os embriões sejam colocados no útero, diminuindo as chances de falhas na implantação.
Para isso, realiza-se o freeze-all, em que todos os embriões conseguidos em um ciclo de FIV são criopreservados e a transferência embrionária somente acontece quando a mulher demonstra alta receptividade endometrial, o que pode ser observado com o monitoramento do preparo endometrial e auxiliado por medicamentos à base de hormônios.
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