Por Elo Clínica
A psicologia é a ciência que estuda o ser humano em seus aspectos mentais e comportamentais, intervindo diante de conflitos intra e interpessoais e transtornos emocionais como ansiedade e depressão. Para casais que buscam os tratamentos de reprodução assistida, o acompanhamento psicológico é um aliado para lidar com a frustração ocasionada pela infertilidade e se preparar emocionalmente para a chegada de um filho.
Formar uma família e assumir o papel de mãe/pai são fenômenos inerentes ao estabelecimento da identidade social da pessoa adulta, o que também se reflete na realização pessoal. Apesar disso, as mudanças na sociedade contribuíram para a busca mais duradoura de ascensão profissional, múltiplas relações pessoais e outros projetos de vida, deixando os planos reprodutivos para depois dos 35 ou 40 anos.
Com o passar do tempo, os casais se deparam com a dificuldade de ter filhos, uma vez que a capacidade de engravidar naturalmente reduz com a idade. Além disso, há várias doenças e condições que podem dificultar a reprodução espontânea. Assim, o diagnóstico de infertilidade pode ser causa de sentimentos conflitantes, como culpa, vergonha, autocobrança, baixa autoestima, cobrança social, impotência e fracasso.
Diante desse misto de emoções negativas, o casal que descobre a infertilidade pode encontrar apoio com um profissional de psicologia para desenvolver estratégias de enfrentamento e evitar traumas maiores. Esse suporte também é importante para lidar com as expectativas que surgem durante o tratamento de reprodução assistida, tendo em vista que a fertilização nem sempre é fácil e os resultados positivos podem chegar somente após várias tentativas.
Impactos psicológicos da infertilidade
O casal é diagnosticado como infértil quando não consegue confirmar uma gravidez após o período de um ano de relações sexuais frequentes sem o uso de métodos de anticoncepção. Essa condição pode desencadear conflitos individuais e conjugais que podem ser mais bem compreendidos e superados com a ajuda da psicologia.
Nos homens, a fertilidade está associada à virilidade, à masculinidade. Quando as características do caso indicam a possibilidade de infertilidade masculina, isso pode gerar um sentimento de frustração, impotência e até mesmo uma postura resistente e não colaborativa do homem para realizar os exames e participar do tratamento de reprodução.
Para a mulher, os impactos podem ser ainda maiores, visto que parece existir uma cobrança social mais evidente quanto ao estabelecimento da maternidade. Diante da confirmação da infertilidade feminina, podem aflorar sentimentos de baixa autoestima e inferioridade em relação a outras mulheres que são mães.
Como consequência, há o risco de que quadros mais graves, como transtornos depressivos e ansiosos, se instalem, comprometendo o bem-estar emocional, as relações pessoais, o convívio social e até o desempenho funcional dos indivíduos. Além disso, a investigação da infertilidade pode revelar doenças que exigem tratamentos, muitas vezes cirúrgicos, configurando outro motivo de apreensão para esses pacientes.
Importância da psicologia nos tratamentos de reprodução assistida
Ao iniciar o tratamento de reprodução assistida, os casais muitas vezes estão abalados e desapontados — em alguns casos, a relação conjugal já está fragilizada devido às recriminações mútuas pela condição de infertilidade.
Além das tensões emocionais e da pressão dos conhecidos e familiares, alguns casais ficam inseguros quanto aos procedimentos que terão que realizar. Isso engloba crenças e vários aspectos socioculturais, bem como o desconhecimento sobre os benefícios dos avanços tecnológicos e científicos da medicina reprodutiva.
Frente a isso, o profissional de psicologia pode ajudar esses casais a desconstruir conceitos pré-formados sobre a gravidez obtida com técnicas de inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV). Esses tratamentos podem ser encarados como possibilidades que a modernidade trouxe para ampliar as chances de formar uma família, mesmo diante de limitações biológicas.
Além de ajudar o casal a lidar com os impactos emocionais da infertilidade e reformular suas visões sobre a reprodução assistida, o acompanhamento em psicologia auxilia na tomada de decisões e na compreensão de algumas questões específicas desses tratamentos, como:
- o risco de que a gravidez não aconteça nas primeiras tentativas;
- a necessidade de incorporar técnicas complementares como doação de óvulos ou doação de sêmen;
- a necessidade de escolher uma cedente temporária de útero (barriga de aluguel) quando a mulher não pode gestar em seu próprio útero;
- o que fazer com os embriões excedentes e congelados, especialmente em casos de separação ou falecimento de um dos cônjuges;
- os desafios da reprodução independente e de casais homoafetivos.
Contribuição da psicologia na formação dos vínculos familiares
A psicologia, enquanto ciência que estuda o indivíduo e sua relação com o meio que o cerca, tem papel importante no preparo dos futuros pais para construírem vínculos afetivos com a criança desde o período gestacional.
Por mais que a gravidez seja planejada e represente, na verdade, um sonho para o casal, existe uma série de desafios a enfrentar. Um filho muda completamente a vida, as perspectivas e a rotina dos pais, especialmente da mãe que renuncia a si mesma em tantos aspectos para se dedicar totalmente aos filhos.
Passar pelas dificuldades impostas pela gestação e pelos cuidados integrais com o bebê pode trazer um conflito de expectativa versus realidade que é intensificado pelo desgaste emocional que o casal já traz desde a infertilidade. Nesse cenário, o acompanhamento psicológico continua sendo relevante para trabalhar a resolução de problemas, promover um ambiente favorável para o desenvolvimento da criança e fortalecer a união familiar.
Por fim, vale acrescentar que o apoio do profissional de psicologia se faz particularmente necessário para casais com histórico de psicopatologias, discórdias conjugais graves, perda recente de um filho e comportamentos de risco, como o abuso de substâncias químicas.