Por Elo Clínica
Quando dão início às tentativas para engravidar, muitas mulheres podem encontrar dificuldades em virtude de quadros, transitórios ou não, de infertilidade feminina causada pela presença de bactérias no trato reprodutivo.
Na maior parte das vezes essas contaminações acontecem pelo contato com ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), ou podem ser resultado do aumento na vulnerabilidade de alguns tecidos do sistema reprodutivo por outros motivos.
De modo geral, podemos dizer que qualquer alteração sistema reprodutivo tem potencial para prejudicar a fertilidade das mulheres, contudo, as tubas uterinas estão entre as estruturas mais delicadas desse sistema, e a maioria das alterações sobre elas pode resultar em infertilidade, tanto pela dificuldade de realizar a fecundação, como por prejuízos à implantação embrionária.
A hidrossalpinge costuma ser resultado da ação bacteriana, de lesões mecânicas e endometriose, que desencadeiam processos inflamatórios na região tubária, provocando um acúmulo de líquido e aumento nas dimensões dessas estruturas.
Nos acompanhando na leitura do texto a seguir você conhecerá melhor o que é hidrossalpinge, e como essa condição está conectada à infertilidade feminina. Aproveite a leitura!
O que é hidrossalpinge?
Chamamos hidrossalpinge a um processo específico que acomete as tubas uterinas e resulta de uma reação inflamatória nesse local, como resposta aos danos causados por parasitismo bacteriano (infecções), lesões mecânicas provocadas por procedimentos cirúrgicos, ou pela presença de focos endometrióticos.
O nome hidrossalpinge reflete bem os acontecimentos tubários envolvidos com esse quadro: a reação inflamatória provoca um acúmulo de líquido local, fazendo com que as tubas inchem e aumentem seu tamanho, bloqueando ou ao menos dificultando a passagem em seu interior.
Além do bloqueio, as diversas células e substância envolvidas no processo inflamatório alteram a composição química no interior das tubas uterinas, e podem tornar esse ambiente inóspito para os gametas masculino e feminino, inviabilizando a fecundação.
Lesões mecânicas ou infecciosas em qualquer tecido disparam o sistema imunológico, que envia ao local afetado principalmente histaminas, prostaglandinas, além das células leucocitárias, plaquetárias e os macrófagos, cujas principais funções são identificar e destruir os agentes causadores das lesões, ou isolar e proteger a área afetada para que a cicatrização ocorra.
No caso da hidrossalpinge, as histaminas e as prostaglandinas são responsáveis pelo acúmulo de líquido que torna as tubas edemaciadas, enquanto a ação das células imunológicas atua no combate às infecções e, em hidrossalpinge por lesão mecânica, auxiliam na cicatrização.
Muitas vezes as mulheres com hidrossalpinge são assintomáticas e a infertilidade pode ser o único sinal para o início da investigação sobre esse quadro.
Os casos sintomáticos normalmente estão relacionados à hidrossalpinge resultante de infecções bacterianas e de endometriose tubária – ou próxima às tubas uterinas –, produzindo sintomas mais específicos para essas doenças do que para a hidrossalpinge exclusivamente.
Entre os principais sintomas, destacamos:
- Alterações no fluxo menstrual;
- Dismenorreia;
- Dispareunia de profundidade;
- Sangramento fora do período menstrual;
- Corrimento vaginal de odor desagradável;
- Febre, náuseas e vômitos.
É importante ressaltar que, na ocorrência de febre, mesmo na ausência de outros sintomas, a busca por atendimento médico deve ser imediata.
Quais as consequências da hidrossalpinge?
As consequências da hidrossalpinge podem ser bastante sérias, já que se trata de um foco infeccioso no interior da cavidade pélvica, com potencial para contaminação dos demais órgãos, estruturas e tecidos aí localizados.
Como a cavidade pélvica está interligada também com a abdominal, os processos infecciosos nessa região podem ser a porta de entrada para quadros graves como sepse, uma infecção generalizada dos órgãos, que pode resultar em morte.
Além da obstrução das tubas uterinas, portanto, pode sugerir a existência de um quadro mais amplo, com aderências e focos de infecção em outras estruturas.
Hidrossalpinge pode causar infertilidade?
A hidrossalpinge claramente prejudica a fertilidade das mulheres quando a infecção está ativa, já que o próprio processo inflamatório obstrui a tuba uterina em que está localizado, alterando também a composição interna dos tecidos de revestimento em contato com os gametas.
Contudo, em alguns casos, mesmo após o tratamento para os processos infecciosos, a ação parasitária das bactérias pode deixar cicatrizes em formas de aderências salientes que, da mesma forma, causam obstruções e oferecem um potencial de risco à fecundação e à implantação embrionária.
A formação de cicatrizes pode ocorrer, ainda, como resultado de intervenções cirúrgicas malsucedidas na região tubária, inclusive a retirada dos focos endometrióticos que, por isso, só é aconselhada às mulheres com endometriose tubária que não desejam ter filhos.
Como é feito o tratamento da hidrossalpinge?
O tratamento mais adequado depende diretamente dos agentes causadores desse quadro inflamatório.
Nos casos de hidrossalpinge por ação microbiana é fundamental que as bactérias envolvidas na infecção sejam adequadamente identificadas: o tratamento é feito pela administração de antibióticos específicos, direcionados para cada microrganismo envolvido no processo.
Se as lesões tubárias foram provocadas por intervenções cirúrgicas malsucedidas, a mulher pode ser tratada com anti-inflamatórios orais durante o tempo prescrito pela equipe médica, para controlar os sintomas da inflamação com o objetivo de que as tubas uterinas retornem às suas dimensões e condições normais.
Quando a hidrossalpinge é resultado da implantação endometriótica, o tratamento deve ser específico para endometriose. A escolha da melhor terapêutica, nesses casos, depende da intensidade dos sintomas e do desejo que a mulher manifesta de ter filhos. Quando não há desejo e os sintomas são leves, o tratamento pode ser feito por contraceptivos orais combinados de estrogênio e progesterona.
No entanto, se a endometriose for mais grave e a mulher tem um desejo de ser mãe, a reprodução assistida pode ser uma forma de tratamento indicada e bastante bem-sucedida.
Reprodução assistida
As mulheres que desenvolvem hidrossalpinge apresentam um risco maior para infertilidade por obstrução tubária, e a única técnica que pode ser indicada para esses casos é a FIV (fertilização in vitro), já que esse procedimento permite a coleta de gametas femininos diretamente dos ovários e promove a fecundação fora das tubas uterinas.
Entretanto, é importante lembrar que mesmo a FIV depende da integridade do sistema reprodutivo feminino, que deve estar realmente livre de qualquer infecção ativa durante todo o tratamento.
Por isso, nos casos em que a hidrossalpinge é provocada pela ação bacteriana, a infecção deve ser tratada antes de o tratamento iniciar.
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