Por Elo Clínica
A reprodução assistida reúne diferentes técnicas que viabilizam a gestação para casais inférteis. Além de tratar pacientes com quadros variados de infertilidade, as pessoas também podem contar com esse ramo da medicina quando decidem adiar a gravidez, principalmente as mulheres. A técnica é chamada de preservação social da fertilidade e deve ser empregada no contexto da fertilização in vitro (FIV).
Essa técnica foi desenvolvida com vistas a acompanhar as mudanças que ocorreram na sociedade, nas últimas décadas. Isso porque em meados do século passado, a trajetória de vida da mulher era marcada por certa previsibilidade, com união conjugal precoce e a vida dedicada ao cuidado dos filhos. Mas esse cenário passou por muitas transformações.
Hoje, as mulheres têm objetivos que reduzem a urgência de engravidar e constituir família, como formação acadêmica e consolidação de carreira, ou mesmo a opção por permanecer solteira. O fato é que esses e outros planos pessoais podem resultar em gestações tardias.
No entanto, a fertilidade feminina passa por redução progressiva após os 35 anos, o que significa que quanto mais a mulher adiar a gravidez, maior será o risco de não ter filhos. Nesses casos, a preservação social da fertilidade é uma alternativa viável.
Importante dizer que a essa técnica não é somente direcionada às mulheres. Contudo, os homens apresentam vida fértil mais longa e sua produção de espermatozoides continua inalterada por volta dos 40 anos. Nessa idade, a mulher já tem pouquíssimas chances de obter uma gestação natural, em razão do esgotamento da reserva ovariana.
As indicações para o procedimento
Mesmo com as mudanças sociais e o leque aumentado de caminhos para a mulher, ainda existe muita discussão acerca do dilema entre ser ou não ser mãe. No entanto, a decisão pelo adiamento da gravidez, ou até mesmo pela recusa definitiva da maternidade, é uma opção que deve ser respeitada pelos familiares e pela sociedade como um todo.
É importante que a mulher esteja física e psicologicamente preparada para essa transição de vida, visto que ter um filho exige bem mais do que os cuidados básicos para a subsistência da criança — requer comprometimento integral e até anulação de interesses particulares para estar sempre em função de outra vida.
Portanto, de forma isolada ou integrando um conjunto de fatores, a preservação social da fertilidade pode ser realizada diante dos seguintes motivos:
- consolidação de carreira;
- formação acadêmica continuada;
- planos de garantir estabilidade financeira antes de engravidar;
- relacionamentos afetivos que não perduram;
- escolha pessoal.
As técnicas empregadas na preservação social da fertilidade
Há dois métodos principais para fazer a preservação social da fertilidade: criopreservação de gametas ou de embriões. Ambas as técnicas fazem parte do processo de FIV e seguem procedimentos semelhantes, a diferença está na etapa em que os materiais biológicos são congelados.
Congelamento de gametas
Para congelar os gametas — óvulos ou espermatozoides — os pacientes passam primeiramente por diversos exames para identificar a qualidade e a quantidade de células sexuais disponíveis para o tratamento futuro. Para os homens que optam pela preservação social da fertilidade, o principal método de avaliação utilizado é o espermograma.
Para isso, é feita a coleta dos espermatozoides por masturbação. Em seguida, a amostra de sêmen colhida é analisada em seus aspectos macroscópicos e microscópicos. A primeira parte da análise é voltada para as características físicas do esperma, como cor, volume, pH e liquefação.
A segunda parte da análise seminal consiste em observar a concentração dos gametas, bem como a morfologia e a motilidade. Assim, os espermatozoides que atendem aos parâmetros de qualidade são selecionados e congelados.
Vale lembrar que quando não são encontradas células reprodutivas no líquido ejaculado (condição chamada azoospermia), é possível coletá-las dos testículos ou epidídimos, por meio de técnicas de recuperação espermática.
Para congelar os óvulos, a mulher começa com a avaliação da reserva ovariana. O procedimento de estimulação dos ovários é feito conforme os resultados do exame, isto é, a dose de hormônios aplicados varia de acordo com a necessidade de cada paciente. Os medicamentos administrados permitem que vários folículos sejam recrutados para amadurecer e liberar os óvulos.
O crescimento dos folículos ovarianos é acompanhado por ultrassonografias seriadas. No momento apropriado, é aplicado o hCG para induzir a maturação final. Depois disso, é feita a punção dos óvulos, os quais são coletados do líquido folicular em laboratório, passam por análise de qualidade e vão para a criopreservação.
Criopreservação de embriões
O congelamento de embriões também pode ser feito na preservação social da fertilidade feminina e masculina. Os passos iniciais do tratamento são os mesmos realizados na criopreservação de gametas — exames para avaliação da fertilidade, estimulação ovariana, punção dos óvulos, análise e preparação dos espermatozoides.
Mas na criopreservação de embriões, as próximas etapas da FIV também são cumpridas. Após a seleção dos gametas é o momento de fecundar os óvulos. O método de fertilização mais utilizado é a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), em que cada célula reprodutiva masculina é injetada no citoplasma de um ovócito.
Após a fecundação, os embriões formados ficam em cultivo, em incubadoras preparadas para o seu desenvolvimento inicial.
Assim, um especialista em embriologia acompanha o processo de divisão celular dos embriões até que eles estejam prontos para a etapa final da FIV, que seria a transferência para o útero materno. Em vez disso, eles são criopreservados para serem transferidos em ocasião futura, quando os pacientes decidirem que é hora de ter filhos.
Além da preservação social da fertilidade, o congelamento de gametas e embriões, assim como de tecidos gonádicos, pode ser feito por pacientes que vão se submeter a tratamentos de câncer — técnica chamada de preservação oncológica da fertilidade.