Por Elo Clínica
O endometrial receptivity array (ERA) é uma importante ferramenta para os tratamentos de reprodução assistida, pois possibilita que o endométrio seja analisado antes da transferência dos embriões. O tecido endometrial corresponde à membrana mucosa que recobre a parede do útero, justamente o local onde o embrião se implanta para dar início à gravidez.
O teste ERA é considerado um recurso avançado da medicina molecular. A análise é feita com a tecnologia NGS — sigla para next generation sequencing, ou sequenciamento de última geração —, método que permite o sequenciamento dos mais de 200 genes que participam da receptividade endometrial.
O ERA é empregado nos processos de fertilização in vitro (FIV), mas não são todos os tratamentos que requerem essa técnica. As indicações são feitas principalmente nos casos de falhas recorrentes de implantação embrionária.
As indicações para o teste ERA
A FIV garante altas taxas de gestação clínica, diante de diversas condições de infertilidade feminina ou masculina. Contudo, mesmo com um minucioso controle do processo de fecundação, há situações em que o casal não consegue confirmar a gravidez após o tratamento, o que indica que o embrião não se implantou na parede uterina.
Após 3 ciclos de FIV sem gestação confirmada, o casal se enquadra na condição de falhas de implantação repetidas (RIF), frequentemente associada à infertilidade sem causa aparente (ISCA). O teste ERA, nesses casos, é uma ferramenta fundamental para identificar o período do ciclo em que a mulher apresenta melhor receptividade endometrial.
Pacientes com diagnóstico de endometrite, doença caracterizada pela inflamação do endométrio, também recebem indicação para realizar o teste ERA. O processo inflamatório pode alterar as características do tecido endometrial e afetar a fixação do embrião no útero.
Entretanto, é preciso investigar a fundo os fatores relacionados às falhas de implantação. Apesar de a baixa receptividade endometrial ser apontada como uma das causas principais, outras condições podem interferir na fixação embrionária, como malformações no útero, qualidade diminuída dos embriões, defeitos nos espermatozoides, trombofilias, entre outras.
Alterações cromossômicas também podem ocasionar falhas de implantação e abortamentos. Contudo, para identificar anomalias nos genes ou cromossomos do embrião é realizado o teste genético pré-implantacional (PGT).
A realização da análise
O teste ERA é realizado com a finalidade de detectar o período em que o útero está mais favorável para receber os embriões — fase do ciclo reprodutivo definida como janela de implantação. A análise é feita a partir da biópsia do endométrio.
O ERA pode ser feito em ciclos menstruais naturais ou com administração de medicamentos hormonais para o preparo uterino. Em ciclos naturais, o endométrio responde à ação dos hormônios ovarianos. O início do ciclo é marcado pela descamação do tecido endometrial, período que conhecemos como menstruação.
Cerca de 14 dias depois, ocorre a ovulação e o útero começa a se preparar para a chegada de um embrião. Assim, há um aumento na concentração de estrogênio e o endométrio adquire mais espessura.
Enquanto isso, o folículo ovariano que liberou o óvulo se transforma em corpo lúteo e passa a secretar progesterona, que garante um fenótipo receptivo ao endométrio, caracterizando a janela de implantação.
O período de receptividade dura cerca de 3 dias e ocorre aproximadamente entre 19 e 21 dias após o início do ciclo menstrual. Portanto, em ciclos naturais, a amostra do tecido endometrial é coletada por volta de 7 dias após a ovulação.
No entanto, algumas mulheres apresentam a janela de implantação deslocada, isto é, quando não acontece no período previsto. São casos em que a paciente precisa de intervenção hormonal (com estradiol e progesterona) para suporte à fase lútea.
O efeito dos hormônios no útero é acompanhado por ultrassonografia. Assim, é possível determinar com mais precisão o momento em que a biópsia endometrial poderá ser realizada.
Os resultados possíveis
A análise endometrial verifica se o útero apresenta boa receptividade ou se está não-receptivo durante os dias do ciclo em que o teste ERA é realizado. Se o resultado apontar endométrio receptivo, os embriões são transferidos no mesmo período do ciclo seguinte.
Entretanto, se o útero não apresentar receptividade, o ERA indica se a janela de implantação ocorreu antes ou depois da biópsia (endométrio pré-receptivo ou pós-receptivo). Quando isso acontece, pode ser necessário ajustar a dosagem dos hormônios e realizar novas análises no ciclo posterior.
Enquanto o resultado do teste ERA é aguardado, os embriões são mantidos em criopreservação — outra importante técnica dos tratamentos de reprodução assistida, utilizada para congelar materiais biológicos sem risco de provocar danos às células. A transferência dos embriões congelados oferece as mesmas chances de sucesso que a transferência a fresco.
Com o teste ERA e a identificação da janela de implantação, as possibilidades de confirmar uma gestação aumentam. O exame tem favorecido o tratamento de pacientes com histórico de falhas de implantação e abortamentos de repetição. Vale acentuar que, para que a gravidez ocorra, é preciso que exista sincronização fisiológica, o que requer receptividade uterina e embriões saudáveis.